"Não queria prender-se, dizia, e era verdade. Mas não queria prender-se porque, então, seria confessar a inutilidade do que vivera. Que ganhara em fazer tão largo rodeio para, afinal, vir dar ao caminho por onde seguiam aqueles que resolutamente quisera deixar? "Queriam-me casado, fútil e tributável?", perguntara Fernando Pessoa. "É isto que a vida quer de toda a gente?", perguntava Abel. O sentido oculto da vida..." Mas o sentido oculto da vida é não ter a vida sentido oculto nenhum." Abel conhecia a poesia de Pessoa. Fizera dos seus versos uma outra Bíblia. Talvez não os compreendesse completamente, ou visse neles o que lá não estava. De qualquer maneira, e embora desconfiasse de que, em muitos passos, Pessoa troçava do leitor e que, parecendo sincero, o ludibriava, habituara-se a respeitá-lo, até nas suas contradições. E, se não tinha dúvidas acerca da sua grandeza como poeta, parecia-lhe, por vezes, especialmente naqueles dias a