Somos celebrativos
e basta. Porque sendo o ser humano um animal simbólico, alimenta-se, pessoal e
colectivamente, de datas comemorativas, de efemérides mais ou menos redondas,
de dias especiais, de expressões capazes de atribuir em sentido de Festa ao nosso quotidiano, que por regra, anda
muito desprovido dele, dessa alegria que se faz júbilo e se engrandece a partir
do apequenado casulo donde emerge a nossa existência.
Uma vez mais
aqui nos encontramos, para virar uma nova página aniversariante – a centésima
vigésima sétima – do grande livro da nossa Soares dos Reis. Ou da antiga Faria
Guimarães onde ainda alguns que estão entre nós foram alunos e até professores.
Nessa transição de aluno de escola com os dois nomes esteve, creio eu, o Mestre
João Duarte. Pois este colega, aposentado há já alguns anos, fez parceria com
um núcleo de colegas de que é preciso manter a chama acesa de um testemunho que
continua vivo em muitas práticas pedagógicas, em gestos e atitudes que enformam
este “ser colectivo” que é a escola Soares dos Reis: esse núcleo teve raízes em
antigos alunos de onde destaco Manuel De=Francesco, Ilídio Fontes, Álvaro
Camarinha, antecedidos por mestres como Truta, Dario Boaventura, X-Costa, António
Cruz e outros mais, felizmente muitos mais. Devo realçar aqui a figura do
colega e amigo João Duarte porque ele foi, acima de tudo, um autodidacta, um
trabalhador inveterado na arte de celebrar o quotidiano da sua cidade, ele que
veio do mundo rural de Amarante e a ele se manteve fiel. Os seus registos em
desenho ou aguarela equivalem à busca do que há mais genuíno e pitoresco na
alma do nosso povo portuense, à maneira de um Germano Silva, fixando arquétipos,
como se fossem gatos a dormitar ao sol preguiçoso de inverno, do que fica e
vale a pena fazer perdurar numa tela, num quadro ou num simples esquisso. O
que, porém aqui cumpre relevar é que este antigo colega e aluno lançou, há anos,
um livrinho de desenhos “lavrados ao sabor do lápis", em reuniões, em
simples lazer e convívio. De edição assaz pequena para contentar uma vasta
clientela, o amigo João Duarte soube, dessa forma singela, honrar a comunidade,
escrevendo, a seu modo e a seu estilo (e que estilo!) algumas belas páginas da
história quotidiana da Soares dos Reis. Aí deixou as suas “Impressões”. Pena
foi que não tenha ocorrido a ninguém a hipótese de incluir um ou outro desenho
no livro que agora se edita em formato de papel. Fica, no entanto, a adenda da
possibilidade e do desejo que o Mestre João Duarte manifestou em intervir nesta
publicação. Desde já e daqui lhe lanço o meu repto para que contribua com um
texto e um desenho (porque não a caricatura de um desses supracitados nomes ou
do Prof. António Sottomayor?) para o próximo número da nossa revista “O Caniço
da Soares” cujo tema vai ser “A Máscara”.
No meio das
vicissitudes deste tempo cinzento de quase trevas em que vivemos, quando tantos
nos vão sugerindo que apaguemos “as luzes” (do Espírito, da Criação, da Arte,
da Cultura) com o miserando intuito de “poupar”, de reduzir gastos “supérfluos”,
o aparecimento teimoso do livro “Impressões”, na sua edição em papel e no
formato imaginado “ab initio”, para comemorar 125 anos da EASR, configura uma
grande notícia para a nossa comunidade: é sumamente verdadeiro o lema pessoano
que nos acompanha e que o granito teimoso ousa perpetuar na esquina do tempo e
do espaço Firmeza/D. João IV “DEUS QUER, O HOMEM SONHA, A OBRA NASCE”.
Porto, Janeiro de 2012, JOSÉ MELO
NB De acordo com a vontade expressa do autor, este texto não está conforme o Acordo Ortográfico atualmente em vigor.