Quero abrir a boca, mas
para cantar o quê?
Cantar
não muda nada se nestes tempos sou desprezada…
Que
posso eu dizer do mel quando a boca me sabe a veneno?
Maldito
seja esse punho prepotente que a molestou…
Se
ninguém é amável para comigo, quem devo louvar?
Que
eu chore ou ria, morra ou viva, não muda nada de nada…
Solitária,
emoldurada pelo pesar e pela perda,
nasci
em vão e a minha boca está selada…
É
primavera, coração, eu sei, é tempo de celebração,
mas
tenho as asas presas - que fazer se voar não posso?
Não
esquecerei a canção embora condenada a calar-me
num
infindável lamento arranco palavra ao peito…
Celebre-se
o dia em que vou escapar a esta jaula
e
embriagada cantarei o meu regresso à tona
Não
sou como o frágil salgueiro que treme a todo o vento
Sou
uma afegã, por isso o meu afã é chorar o tempo todo
Nadia Anjuman