Malik é
cinema. E não é apenas Terrence. O Terrence Malick do filme “A
Árvore da Vida”, o tão polémico quanto belo “Palma de Ouro”
de Cannes do ano passado. Este Malik é Witthart
Malik, cidadão naturalizado alemão a viver em Trier, bela cidade
banhada pelo rio Mosela, afluente do Reno, mas natural de
Kaliningrado, cidade da antiga Prússia oriental, hoje Rússia,
cidade báltica de Königsberg,
a terra onde nasceu, viveu e morreu I. Kant, o filósofo do
Iluminismo, da libertação do Homem por meio da Razão Ilustrada, do
“Sapere aude” (“Atreve-te a saber!”).
Pois
Malik quis visitar uma filha actriz que se encontra a filmar na nossa
capital uma película, com famosos como Jeremy Irons e Beatriz
Batarda, tendo como realizador Bille August e baseando-se num romance
de sucesso de Pascal Mercier de 2004. O “Comboio Nocturno para
Lisboa” promete sucesso para o próximo ano, dando a conhecer ao
mundo a Baixa lisboeta que Irons considera uma pérola paisagística
e patrimonial. O velho pai carregou o seu cravo e viajou de carro,
desde o Sarre, para nos brindar com belíssimas canções de J.S.
Bach, numa manhã chuvosa de Abril, em pleno intervalo grande,
semeando delicadezas, com uma placidez de alma mística que
impressionou alunos e professores passantes naquele espaço central,
à porta da Biblioteca da escola. A pontos de alguns lhe solicitarem
um registo mais longo e detalhado, cumprindo peça mais completa, uma
sonata, uma fuga, exigência que logo exultou esse encantador de
caminhos, de encruzilhadas e de igrejas que vai, por todos os mundos
fora, sem cuidar de quaisquer “cachets”, promovendo a
espiritualização das almas, reconfortando, com esse remédio santo,
tantos espíritos inquietos e ameaçados pelas crises, pelos
mercados, pelas imposições orçamentais de todas as “troikas”
deste mundo. Profeta cósmico, arauto duma música que o progresso
científico enviou para o espaço cósmico, na sonda não tripulada
Pioneer-10!
Quero
agradecer-te, velho Malik, exímio artista e executante virtuoso,
alemão “de empréstimo”, compatriota de filósofos eminentes que
revolucionaram as antigas cosmovisões, de Kant a Hegel, de Marx a
Feuerbach, de Nietzsche e a Heidegger, para fixar somente alguns
nomes mais sonantes, por nos trazeres a nobreza da tua arte. “Porque
é a música mais bela de mundo!” – disseste-o aos alunos que te
desafiaram/provocaram com esse tipo de perguntas um tanto tontas
“porquê Bach?” – Porque a música é aquela forma simbólica
que está mais próxima do nosso inconsciente, aí onde se tece,
disseram-nos Freud e Lévi-Strauss, o núcleo central da verdade
humana. Muito obrigado pela tua generosidade, presente oferecido ao
nosso meio artístico e juvenil!
José
Melo ( prof. de Filosofia da EASR)